sábado, 7 de junho de 2014

Da revisitação

este podia muito bem ser o titulo de um livro do Virgílio Ferreira, mas é apenas uma ideia minha. Um pensamento que queria colocar aqui, mas as palavras apenas formavam imagens, nunca um texto. Esta sensação da revisitação é importante no sentido da nossa  tendência em regressar aos locais onde fomos felizes. Mas fomos felizes como? Porque estávamos sós naquele local e nos conseguimos reencontrar? Porque recebemos uma boa noticia naquele preciso lugar? Ou o sol batia no nosso rosto de uma forma que nunca antes tínhamos sentido? Ou seria simplesmente por estarmos acompanhados pelo "Sol" da nossa vida? E se assim fosse, que triste seria ter apenas um Sol porque nem sempre ele brilha... E a ser tudo isto verdade, então nunca regressamos aos locais onde fomos infelizes? Onde tivemos as piores sensações? Posso garantir que me sinto igual a mim mesma quando vou ao hospital de Almada, ou quando passo nos dos Capuchos. Sinto a mesma serenidade de sempre quando vou ao Jardim do Tourel, se estiver serena e sinto uma grande emoção no Miradouro da Nossa Sra do Monte ou no terraço do Mercado do Loureiro se estiver numa daquelas noites em que até as pedras da calçada eu ano. Então a revisitação dos locais é assim tão importante? Porque será que amigos de longa data ou amantes de sempre se reencontram nos locais que lhes eram comuns? Será que ficou lá ancorada alguma parte de nós que queremos resgatar? Eu já acreditei que sim, hoje nem por isso. Penso que somos nós que agregamos aqueles locais, aquelas sensações que nos causaram, em microparticulas que se fundem na nossa pele, que se agregam ao nosso rosto até que conseguem para sempre mudar a nossa expressão. A expressão com que olhamos os outros e o mundo em que estamos. Por isso mais que revisitar sozinho ou acompanhado, é preciso é buscar a nova emoção que um novo local nos possa trazer, para que o possamos mais tarde agregar e sermos para sempre um bocadinho um do outro. Nós e a terra, o vento, o pássaro que passou, ou a lua que brilhava. É também por isso que quando entro numa sala cheia de desconhecidos me sinto imediatamente atraída por quem mais agregou vivências e mundos em si, por quem soube encontrar-se num qualquer recanto por onde milhares de pessoas passam, mas que nenhuma o tomou para si.


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