sexta-feira, 13 de junho de 2014

A linha que separa

os afectos das reacções.
Todos temos nas nossas vidas pessoas de quem gostamos muito, sejam família, amigos, ou um amor que nos desiludem constantemente. Se ultrapassarmos as questões de carácter  (porque acredito que nenhum de nós quer gente de mau carácter na sua vida) provavelmente temos problemas com essas pessoas por uma questão de feitio. Conseguem fazer sempre aquilo que nos magoa, que nos tira do sério, mas isso não quer dizer que deixemos de gostar delas. Nem sequer acredito que tenhamos a possibilidade de erradicar esses sentimentos da nossa vida. Então o que podemos fazer? No meu caso escolhi viver com alguém que não me desilude. Alguém que nos assuntos que me parecem fundamentais está sempre disponível. Claro que temos as nossas cenas do dia a dia. Claro que reclamo porque não arruma a roupa e deixa os sapatos espalhados pela casa. Resmungamos quando um quer ir mais cedo para a cama que o outro (geralmente eu) e nos obrigamos a ir deitar ao mesmo tempo porque é assim que os casais devem fazer. Também me zango quando ele deixa os papeis dele para eu tratar ou quando deixa cinza no bidé da casa de banho. Mas nada disto me desilude. Cumpre sempre as suas promessas. Faz-me sentir a sua prioridade em todas as decisões da sua vida (laboral, sentimental e familiar) passa todo o tempo disponível comigo e a única pessoa que coloca à minha frente é ele próprio em meia dúzia de jogos de futebol. Ok, posso dizer que tive sorte em o encontrar, mas também orientei a minha busca para aquilo que não estava disposta a tolerar. É impossível para qualquer um de nós viver com alguém que nos está sempre a desiludir. Por muito especial que seja, se por cada 5 coisas espectaculares que faz por nós, logo de seguida em 2 nos desilude não há relação que resista. E as mulheres por muito intensas que sejam, preferem a constância num relacionamento... Depois temos as cenas com os amigos e familiares. Temos sempre aqueles que nos deixam penduradas e que nos estão sempre a trocar as voltas. Temos os de humores instáveis. Vamos fazer o quê? Deixar de lhes falar? Vamos sim continuar a gostar deles mas a reagir melhor ás suas acções e acima de tudo protegermos do mal que nos fazem. Já fiz uma promessa a mim própria depois de uma viagem que correu terrivelmente mal, nunca mais voltar a ir de férias com essa pessoa. Não deixei de me relacionar com ela e durante 10 anos mantive o que prometi a mim mesma e não gastei esse meu tempo de lazer a ir para sitios em que de certeza me ia aborrecer com ela. Passados 10 anos voltei a dar uma chance e fizemos 2 viagens juntas que correram muito bem. No fundo o importante é sabermos afastar das situações que nos causam conflitos e problemas. Se eu tenho um amigo que me deixa 90% das vezes pendurada, que não cumpre as suas promessas e é de uma total inconstância, eu vou tirar dias de propósito para estar com essa pessoa? Vou fazer planos de férias ou coisas que são importantes para mim com alguém que tem sempre a mesma atitude? Pois só se for muito parva.... As lições nós vamos aprendendo ao longo da vida, mas também temos que as colocar em prática. Hoje em vez de tentar reagir o melhor possível a uma desilusão tento evitá-la o mais que posso. Quem não propõem não sofre recusas. Quem não espera, não corre riscos de se desiludir. No fundo quem não dá, não se importa de não receber.


Depois de tudo isto acredito que o afecto se mantém intacto. Só não sei quem perde mais... quem prefere não dar para não se magoar? Ou se quem tanto fez, que acaba por não receber?

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