Existe um certo grupo de mulheres (ao qual já pertenci) que acredita que a sua cara metade se encontra em algum cantinho deste mundo, mas regra geral só procura essa alminha em determinados espaços. E que sítios são esses? Aqueles onde estas amorosas inteligentes, românticas e muito pouco espertas gostam de estar. Museus, livrarias, bibliotecas, exposições de arte, concertos mais eruditos, recitais de poesia, tertúlias literárias. Acreditam que os gostos desse homem misterioso que lhes está reservado, têm que ser simétricos aos seus e que só o vão encontrar no mesmo meio. É um erro pois está bom de ver, mas é uma lição que aos 26 anos já tinha arrumada na minha vida. Hoje nem sequer acredito que o melhor companheiro que posso ter seja o mais inteligente e culto possível. A cultura é sempre adquirida, e são tantas as vezes em que prefiro a sensibilidade à inteligência... Mas estas são as minhas escolhas. O que me surpreende é o grande número de mulheres que depois dos 30 ainda pensa da mesma forma e cria as mesmas ilusões.
Leio um blog engraçado e de bom humor, escrito por uma mulher de 31 anos que ainda pensa como eu já pensei. Continua a cair nos mesmos erros, e está constantemente a questionar-se porque só se interessa por "playboys" (palavra sua), envolventes, cultos e bonitos que rapidamente lhe dão com os pés. Quando não está perante um tipo desses é um queixume imenso de que não encontra homens interessantes pelos círculos em que se move.
A propósito, recordei uma situação que se passou em tempos com uma Susana que já nem sou eu.
Percorria a secção de poesia da Fnac de Almada em busca do livro de Odes de Pablo Neruda, quando nas minhas costas ouço uma voz penetrante que lia em voz alta Baudelaire, mais precisamente o poema Hino que eu já conhecia...
À bem-amada, à sem-igual,
À que me banha em claridade,
Ao anjo, ao ídolo imortal,
Saúdo na imortalidade!
Ela expande-se em minha vida
Como ar impregnado de sal,
E na minha alma ressequida
Verte o sabor do que é imortal.
Bálsamo fresco que inebria
O ar de uma sagrada redoma,
Pira esquecida que irradia
Na noite o seu secreto aroma,
Como, ó amor incorruptível,
Posso expressar-te com verdade?
Um grão de almíscar invisível
A germinar na eternidade!
À bem-amada, à sem-igual,
Que me dá paz, felicidade,
Ao anjo, ao ídolo imortal,
Saúdo na imortalidade!
Enquanto estava atenta às suas palavras só imaginava que quando me voltasse para o leitor, iria encontrar um tipo baixinho, de óculos e careca luzidia, que estaria a segurar o livro numas mãos sapudinhas e branquelas. As possibilidades de ser um adónis eram extremamente reduzidas... eis se não quando... dei de caras com um sujeito alto, moreno, bem constituído, de olhos penetrantes e sorriso aberto.
Estava perante um premeditado engodo de seu nome Filipe. Era um professor de língua Portuguesa para alunos de humanidades nos 3 últimos anos do secundário. Conduziu a conversa por forma a que rapidamente soubesse que tinha 38 anos e era divorciado. Tinha ido ali de propósito para ir buscar um livro essencial para a tese que estava a escrever sobre escritores ibéricos. Era demasiado impaciente para esperar que fossem entregar o livro ao Chiado. Tudo isto fiquei a saber enquanto tomava um café com ele ali mesmo na cafetaria da Fnac. Depois de me ter dito que a melhor poesia é a mais simples, aquela que contem tudo num só verso como a de Mario Cesariny - Ama como a estrada começa, estava lançada a escada para a troca de emails e números de telefone. Seguiram-se algumas semanas em que todos os dias trocavamos umas palavras e depois começamos a sair, mas sem grandes avanços. Numa das noites perguntou-me se eu pensava que no amor e na guerra valia tudo? Respondi que não... no amor vale tudo, mas na guerra não. Parece que a resposta lhe agradou e começou a fazer a corte de forma mais intensa, tendo mesmo feito uma cena de ciúmes numa noite em que saimos com um grupo de amigos seus. Eram espanhois que tinham vindo num inter-câmbio escolar e super animados para dançar a noite toda como eu gosto, pelo que não lhe passei cartão. Já irritado por não ser o centro das atenções, prespegou-me um grande beijo em plena pista de dança, deixando claras assim as suas intenções. Daqui podia ter surgido um excelente relação, mas eu não sabia que era apenas mais uma no seu livrinho de contactos. Não era a única a ser envolvida no seu charme, e aquilo de que eu gostava, muitas outras mulheres gostavam também e ele sabia. O tempo foi passando e fui percebendo a sua falta de disponibilidade e iniciativa para sair comigo. Na altura pensei apenas que se tinha desinteressado, mas passado um mês voltou a contactar com a desculpa de ter tido muito trabalho com os exames e mal tinha tempo para descansar. Queria naquela altura retomar a nossa relação, mas eu já não estava pelos ajustes. Consegui perceber nas entrelinhas, que saia com outras mulheres e que provavelmente alguma delas lhe deu sexo, mais cedo do que aquilo a que eu estava disposta, por isso deixou-me de lado para se dedicar a relações mais prementes. A ideia seria ir buscar-me outra vez à prateleira onde me tinha colocado e tentar novamente a sorte comigo. Claro que não funcionou e cada um seguiu o seu caminho.
Lição a tirar? Homens bonitos, inteligentes, cultos e disponiveis são raros encontrar, mas ainda mais dificil de achar é um homem de bom caracter. Estes tipos que agem de forma premeditada envolvendo as suas presas, encontram-se em qualquer lugar, e as tontas como nós também os encontram a eles.
Passados todos estes anos parece-me que um homem correcto e de bom carácter, não se deve procurar num museu ou numa biblioteca, mas agarrar essa espécie rara numa qualquer esquina que se cruze connosco. Eu encontrei essa pessoa na empresa onde trabalho, onde não abundam nem homens bonitos, nem inteligentes e muito menos de bom carácter. Mais vale não procurar e deixar apenas acontecer...
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