terça-feira, 23 de agosto de 2011

Nem a gregos nem a troianos

Cheguei a uma fase da minha vida em que já não me importo em agradar ou não os outros. Sempre foi muito importante para mim sentir que era aceite e amada, talvez porque poucas vezes o tenha um sido. Regra geral tudo quanto é comum e mediano me aborrece e o que mais há é gente com vidas vulgares. Não tenho alento para manter conversas sobre casamentos e filhos e se fosse dar a minha opinião os vultos vulgares ainda me estranhavam mais. Sempre disse que não queria casar. Prefiro um companheiro que volte para casa todos os dias porque me ama do que pelo simples facto de ter papel assinado no notário e até perante Deus que o "obriga" a voltar. Sobre os filhos sempre houve uma névoa, sendo que me preocupo mais em criar boas estruturas para os meus valores e referências do que em planear a idade de ter um filho. Como é que o posso educar sem ter acabado de me criar a mim? Também não acho interessente a conversa sobre produtos de supermercado e a troca de receitas culinárias. Não sou fiel a marcas, compro por impulsso, gosto de inventar pratos e de comida exótica. Por favor não me entreguem receitas de bolos porque nas minhas mãos nenhum bolo cresce. Também não partilho os ódios de estimação pelas sogras, talvez por ter tido sempre sorte com as "sogras" que me calharam, mas essencialmente porque não entendo como se pode detestar a pessoa que criou o homem que mais amamos. Gosto de conversar sobre politica, arte, história, literatura e aprender muito sobre estes assuntos. Mas a maioria não tem muito que partilhar infelizmente. Gosto de conversar sobre cremes e perfumes, sobre moda e tendências, sobre chapeus e sapatos e luvas, sobre sexo e viagens, sobre sitios bonitos e experiências de crescimento pessoal. No mundo mediano ninguém fala sobre isto e acabo por servir de referência para alguns que querem saber um bocadinho mais, mas aborrece ser sempre eu a fonte.
Gosto das conversas com o João, que me narra histórias sobre os mundos distantes que visita. Que me escreve em italiano, que está sempre apaixonado por algo novo. Gosto de conversar com o Luis que me conta como é a sua rotina nas ruas a vender a revista cais para puder comer. Faz-me bem a sua calma, a forma como coloca tudo quanto vivemos e sentimos num campo relativo, como consegue pensar que mesmo com apenas um pão com manteiga no estomago durante todo o dia, há quem esteja pior do que ele e nem água tenha. Gosto das alegrias simples e sinceras que ambos têm quando partilham os seus mundos. Quando o João conta as maravilhas dos locais secretos que descobre de mochila ás costas, ou como os olhos do Luis brilham quando bate á porta de minha casa e pergunta se pode cá tomar banho quando se sente já esperado. Os seus olhos sorriem quando encontra uma toalha lavada, bons produtos de higiene só para ele e uma muda de roupa. Gosto de mundos diferentes de realidades distantes da minha, gosto de extremos... só não vivo bem dentro da vida dos outros, aquela vida ordinária, aquele marasmo de todos os dias que os consome lentamente, para isso basta o meu.
Já encarei a solidão que vem com o facto de não alinhar em maiorias, em defender pontos de vista completamente contrários aos do "grupo", de remar contra a maré. Talvez por isso já não tenha mais capacidade de fazer fretes, de pensar primeiro nos outros e naquilo que querem e exigem de mim e deixar quem eu sou e o que me apetece fazer para depois. Pensando bem... não sei se foi uma capacidade que perdi ou uma incapacidade que ganhei, mas a verdade é que cada vez mais faço aquilo que me deixa feliz!

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