Era o nome que a minha mãe dava aos livrinhos da colecção Harlequim que eu comprava na papelaria junto da escola. Eram pequenos romances, de cariz bastante sexual para uma adolescente e com um enredo sempre semelhante. Existia uma protagonista frágil, sozinha, carente e muitas vezes sem qualquer experiência sexual, que se apaixonava irremediavelmente por um homem muito atraente, quase sempre mais velho do que ela e com uma capacidade de lhe dar prazer que ela nem sabia que poderia existir. Depois de alguns mal entendidos e de a meio da história ela pensar que o seu mais que tudo não a ama e a abandonou, ele regressa para esclarecer tudo e finalmente ficar com ela.
A minha mãe temia que este tipo de histórias que regra geral estão tão apartadas da realidade, pudessem de alguma forma criar expectativas impossíveis de alcançar na mente de uma jovem tão inexperiente.
O que é certo é que muitos anos mais tarde pude viver um desses amores Harlequim. Daqueles amores que depois de ultrapassar a fasquia dos 25 anos e de assistir a muitas temporadas de O Sexo e a Cidade, pensei que só existiam no cinema. Com algum distanciamento, vejo que a literatura de cordel me permitiu esperar um grande amor e saber reconhecer e compreender que o estava a viver naquele momento, com toda a pureza e ingenuidade que as protagonistas dos livrinhos viviam.
Tudo isto a propósito de um livro muito recente no nosso mercado chamado Pecado, da autora Sylvia Day.
Quando li o resumo, pensei logo nos romances de cordel próprios da adolescência, mas depois percebi que também mulheres da minha idade são um mercado importante deste tipo de leitura. Depois do sucesso das Sombras de Grey, parece-me que temos público feminino dos 15 aos 55 para este tipo de livros, que não deixam de ser literatura fácil com sugestões de soft porn. E isto é estranho, porque na minha altura não via mulheres de 40 a lerem os romances Harlequim. Hoje tanto as adolescentes como as mulheres mais maduras são sugestionadas pela mesma fonte. Se quando somos mais novas procuramos informação sobre sensações eróticas que ainda não experimentamos e que de certa forma nos preparam para o que pudemos esperar numa relação física a dois, aos 30 ou aos 40, o que é que procuramos nestes novos livros de cordel? Como se sente uma mulher casada com toda um percurso de vida tradicional que lê naquelas linhas sensações e situações que nunca se permitiu a viver? Será que ainda vai pensar que é tudo ficção? Ou que passou uma boa parte da sua vida a olhar apenas numa direcção?