Sem sítio onde cair morta

Então a minha mãe como criatura iluminada e inteligente que sempre foi, resolveu não ter bens nesta vida e passar tudo para nome da sua única filha. Correu bem, já foi feito há tanto ano que nem me lembro. Só ficou a recordação de assinar os documentos e passar a receber contas astronómicas de irs para pagar. Ainda assim escapou um pormenor, daqueles práticos e mórbidos... as campas e os terrenos no cemitério mais cobiçado da cidade. E acontece que são muitas, são antigas e têm valor.
Então vá de tratar de habilitação de herdeiros, coisa que eu pensei que resolvia rapidamente hoje entre as 9h e 10h e depois ia trabalhar. Afinal não... nas finanças preenchemos os papeis necessários mas as campas e os terrenos no cemitério não são considerados bens a declarar (o desgoverno ainda não se lembrou desta), vá de ir para a conservatoria para saber se é necessaria a habilitação de herdeiros e a resposta é: depende da câmara. Como as sepulturas de toda a minha familia são perpétuas, na conservatória não sabem dizer o que fazer. Aconselham ir á junta de freguesia pedir o procedimento e os registos. Vá de ir á junta. Não têm registos, estão na secretaria do cemiterio novo... e depois de os pedir há que levar á junta para eles os avaliarem. Se tiverem duvidas e não souberem, tenho que ir á câmara. E se a câmara achar que pode ganhar dinheiro com isto vá de me mandar a conservatória pagar 150 euros por uma habilitação de herdeiros, para mudarem (na junta? na câmara? no cemitério) a titularidades das sepulturas para alguém que não pensa falecer tão próximo (pelo menos, não tenho pensado nisso ultimamente), mas se me ocorrer que preciso de um buraco onde me enfiar tenho 60 dias para tratar se não perco o dinheito á cova, que é perpétua, mas como a familia não me deserdou o estado deserda. Isto é estúpido? ou estúpido?