terça-feira, 14 de março de 2017

Tinha tudo para ser um bom filme

mas não foi. Para já tem o Nuno Lopes como actor principal e o José Raposo que vai lindamente como pai do protagonista. Tem um tema super forte e real, mas do qual o realizador não soube retirar fosse o que fosse. Depois torna-se um filme estranho na medida em que se vai buscar um pormenor como colocar o Nuno Lopes com as unhas sujas de um trabalho fabril (que eu sei reconhecer, porque tive um pai que também chegava a casa com as unhas sujas de naftas e óleos), mas descobriu uma actriz brasileira de pele negra e que conseguiu introduzir na comunidade africana de um bairro social. Ela vem do Brasil, come papaias e dança kizombas e kuduro?


Os diálogos sobre dinheiro, rendimento social de inserção, fundo de desemprego (em vez de subsidio) e até ter dinheiro apenas para o frango de churrasco e não para as batatas eu entendo. Agora este filme é um acto de fé no público que o vê. Nós sabemos que os portugueses não são grandes adeptos de cinema português, os números falam por si. Então aqueles que vão ver este filme talvez pertençam a uma espécie de público que não tem conhecimento de como vive esta "gente". De quem são, ou como fazem as contas ao final do dia para saber se os trocos dão para um café ou para uma lata de salsichas para o jantar...Onde é que o Marco Martins errou? Foi em nunca considerar a hipótese de alguém que é licenciado, que fala 4 línguas, que usa chanel e já almoçou com Reis, seja a mesma pessoa que saiba que na Quinta da Princesa, a comunidade africana não se mistura com a brasileira, ou que tenha amigos com tiques nervosos que lhe ficaram da fome que passavam quando eram crianças, ou com paralisia parcial porque na noite de Natal resolveram fazer uma puxada de luz para os 5 irmãos não passarem a consoada as escuras e as coisas correram mal.
Porque o bom cinema é transparente e nós só conseguimos transmitir aos outros as realidades que verdadeiramente conhecemos.

E já agora, o Nuno Lopes está com um corpaço fenomenal e uma condição física que lhe deu muito trabalho a conseguir para o realizador explorar tão pouco a vertente do boxe e dos combates mais ou menos legais que se realizam em Portugal.

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