Naquela tarde, quando te vi num cantinho da prateleira, discreto e solitario no meio de tantos livros de titulos vistosos, passei por ti e o bater do meu coração mudou. Sempre gostei daquela frase que diz assim "Quem viveu em silêncio encerrado no seu canto, a sua propria insignificancia tornou-o interessante" Assim eras tu. Quando te tive nas mãos e li a contra capa, percebi que alguém no mundo tambem sentiu aquilo que eu senti, viveu como eu vivo e amou como tenho amado e o mais extraordinario de tudo isto é que o conseguiu colocar no papel! A contra capa diz isto:
"Tu eras as pessoa mais antiga que eu jamais conhecera. Eras a monotonia do meu amor eterno e eu não sabia. Eu tinha por ti o tédio que sinto nos feriados. O que era? Era como a água escorrendo numa fonte de pedra e os anos demarcados na lisura da pedra, o musgo entreaberto pelo fio de agua correndo e a nuvem ao alto, e o homem amado repousando, e o amor parado, era feriado, e o silêncio no voo dos mosquitos. E o presente disponivel. E a minha libertação lentamente entediada, a fartura, a fartura do corpo que não pede e não precisa"
E tu vieste comigo para casa e coloquei-te na minha secretaria. Ainda não te li. É esta eterna mania de saber esperar pelas coisas boas. Mas sempre que olho para ti relembro as palavras da contra capa e como há pessoas antigas na nossa vida. Como há amores que duram anos, decadas ou centenas de anos. Como há almas que estão ligadas entre si nas finas areias do tempo... Se ao menos pudesse girar a ampulheta novamente...
PS: para quem quiser ler o dito cujo é de Clarice Lispector e chama-se A Paixão segundo G.H, mas podia muito bem ser a paixão segundo JG eu não notaria a diferença
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