Tenho uma colega de curso que viveu 30 anos com um homem infiel e violento. Era vítima de violência doméstica e passaram muitos anos até conseguir colocar um ponto final. Quando ela fala sobre isso dá uma série de explicações (desculpas) para ter mantido esta relação - porque ele era bom pai, porque era trabalhador, asseado, não bebia e porque ela foi criada sem pai e não queria que o mesmo acontecesse aos seus filhos. Aquilo que eu oiço não é aquilo que eu percebo. Percebo que ela amou alguém que não soube devolver o amor que ela lhe dava. Não lhe digo nada, porque certas coisas as pessoas só percebem, se quiserem entender e depois quem sou eu para falar de amor? Cometo tantos erros e sou tão áspera e imperfeita nesta minha forma de ser que não posso servir de exemplo para ninguém. Mas sei reconhecer quando vivo num "lugar" de amor, mesmo que imperfeito, mesmo cheio de contornos indefinidos e espaços rachados, que tantas vezes doem, mas que permitem também que a luz possa entrar, pelas mesmas fendas que um dia nos magoaram mas que tornam tudo real. É que eu posso não saber muito sobre amor, emoções ou sentimentos e até confundir tudo cá dentro, mas sei alguma coisa sobre verdade. Neste caso, por mais triste que possa ser, sei que ela não viveu num lugar de amor e respeito e que ainda hoje não sabe aceitar esse facto. Ela partiu, mas o seu coração ficou lá com ele.
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