sábado, 27 de outubro de 2012

Sobre aquilo de que não se fala

Hoje deu-me para isto. Deve ser da dor de dentes brutal que tenho... Nova rubrica no blog. Vou falar sobre aqueles assuntos que regra geral evitamos. Aqueles pensamentos que castramos logo à partida, mas que nem por isso deixam de existir. Porque também é para isso que este blog existe.

Ontém a mãe foi novamente para o Hospital. Caiu outra vez e partiu umas costelas interiores. Nem vale a pena contar como se deu a queda, que para quem tem a doente mais teimosa possivel em casa, tudo pode acontecer. Vá de chamar o inem, vá de ir para as urgências acompanhada da madrinha e de uma amiga. Eramos 3 pessoas e o tempo foi passando, entre conversa e troca de pulseiras de acompanhante. Passei mais tempo do que o habitual cá fora, junto à chegada das ambulâncias. A amiga fuma e quando era a minha vez de sair fazia-lhe companhia. Normalmente quando acontece algo a minha mãe, vou para o hospital ou sozinha ou com o pai. Quando a madrinha sai do trabalho vai lá ter. Ás vezes levo o livro que estou a ler na altura para passar os tempos mortos, mas ontém com companhia não ia ler, e foi então comecei a observar quem por lá passa.
Muitas pessoas vão sozinhas para as urgências e assim permanecem.
Mais de 50% tem um acompanhante, que espera horas cá fora, entre cigarros e copos de café.
Mas apoio verdadeiro e sentido de comunidade têm os ciganos.
Aquilo que todos pensam - Ah porque fazem muito barulho, porque são arruaceiros, porque não se sabem comportar, porque não cumprem regras, porque incomodam toda a gente.
Aquilo que eu penso - alguns são assim, outros não, mas a verdade é que estão verdadeiramente lá para quem está doente. São um apoio para os filhos da pessoa que está internada, para o marido ou mulher de quem lá esteja. Saiem para ir comer, obrigam o familiar mais proximo que lá esteja a ir descansar e tomam a sua vez como acompanhante.
Fazem barulho? Sim. Por vezes são desadequados? Também. Mas não se sente ali um pingo de solidão e isso é mais do que aqueles que passam o tempo a olhar para o relógio e a fumar um cigarro a esquina têm.


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